quinta-feira, 28 de janeiro de 2021


TUDO PASSA...MAS TUDO LEVA O SEU TEMPO .
 

Conta-nos a História deste planeta muitos casos de epidemias e de pandemias que dizimaram a sua população em atrozes sofrimentos. Neste caso vamos abordar de forma rápida a peste negra ou peste bubónica

A peste negra teve sua origem no continente asiático, precisamente na China. Sua chegada à Europa está relacionada com as caravanas de comércio que vinham da Ásia através do Mar Mediterrâneo e aportavam nas cidades costeiras europeias, como Veneza e Génova. Com estes mercadores vieram também os ratos que, por sua vez, traziam consigo a pulga infetante.

A peste negra , uma pandemia que se estendeu de 1347 a 1353 e causou a morte a mais de 50 milhões de pessoas na Europa, foi uma pandemia de peste bubônica, uma doença causada pela bactéria Yersina pestis, que é encontrada em ratos. Essa bactéria é transmitida para os seres humanos por meio das pulgas dos ratos, e, quando as pulgas se alojam em seres humanos, a transmissão acontece. A partir daí, um ser humano pode contaminar outro por meio das secreções do corpo e da via respiratória.

Por esse tempo, o “brilhante “Papa Gregório IX fundou a Santa Inquisição, que perdurou barbaramente durante seis séculos, torturando e executando, principalmente na fogueira, milhões de seres humanos e…também os gatos.

A relação entre os gatos e as religiões pagãs logo se orientou para a construção de uma imagem demoníaca do animal. Em uma de suas várias bulas, o papa Gregório IX determinou que os gatos fossem terminantemente exterminados. Ora, os ratos, sem o seu principal predador, tiveram caminho livre para se reproduzirem em grande número, disseminando a doença.

Atualmente estamos vivenciando uma nova pandemia, com a mesma origem (coincidência ou não) na China. Esta pandemia já dura quase um ano e não sabemos como e quando vai terminar, tendo já contagiado muitos milhões de humanos, levando muitos destes à morte.

Comparando as duas pandemias poderemos encontrar algo que, se a consciência humana tivesse tido em conta o bom senso , poderia ter minimizado o número de vítimas. Se o Papa, com a fundação da “Santa “Inquisição não tivesse associado os gatos à imagem satânica, e mandado extermina-los, com certeza o número de ratos teria sido mais controlado, tendo em conta que o gato é o seu predador natural e, por consequência, não teria havido tantas vítimas nesse período tenebroso.

O mesmo acontece nos dias de hoje. Se as pessoas (hoje mais evoluídas e esclarecidas) seguissem as recomendações da Organização Mundial de Saúde a fim de todos usarem máscaras, cuidados de higiene, não fomentarem ajuntamentos, manter distanciamentos, manterem-se em casa nos períodos mais críticos, com certeza não estaríamos na situação em que este planeta se encontra. Se não  fizermos a nossa parte no estrito cumprimento das regras, a fim  de se  reverter a situação, estamos a ser culpados pelo que ainda esteja por acontecer.

 

Muita paz e luz para todos

 


quinta-feira, 13 de agosto de 2020

ADULTESCENTE

 

Adultescente

Adultescente é um neologismo jocoso de sentido óbvio, cruzamento de adulto com adultescente. No entanto, ainda não abriu caminho até aos dicionários portugueses, mais do que isso, não parece ter vingado de verdade em nosso dia-a-dia. É só olhar à nossa volta: adultescentes não faltam na paisagem contemporânea. Talvez você tenha um ou dois dentro de casa. Talvez você seja um.

A caraterística comum dos adultos “infantilizados”, consumidores de videojogos e livros sobre magos, é prolongarem frequentemente a sua dependência do lar paterno muitos anos além da média histórica, mesmo que – e isso é o mais intrigante –trabalhem e ganhem dinheiro suficiente para ter sua própria casa.

Analisando a diferença impactante nos padrões educacionais e culturais atuais, fica evidente que a adolescência se torna precoce, como também se torna ainda mais prolongada. Os filhos não querem sair da adolescência. Conceitua-se, então, chamado de adulto/adolescente ou adultescente.

O adulto/adolescente acomoda-se sob as asas dos pais e ali querem permanecer com o conforto e a mordomia, alargando ainda mais a adolescência até cerca dos 40 anos, para não assumir os compromissos e as responsabilidades que vêm com a idade.

Há algumas décadas (anos 60 e 70) os pais eram mais disciplinadores, mais rígidos na educação de seus filhos, com conceitos de formação familiar, religiosa e profissional, para constituírem suas próprias famílias a fim de se tornarem independentes.

Advém a transformação pós-moderna das últimas décadas. Os pais assumiram a busca pela sua própria independência como também a sua autodeterminação, o que é uma necessidade natural e saudável, lançando-se no mercado de trabalho tendo cada vez menos tempo para os filhos. Assim, exposição por longo tempo à televisão ou à internet, telemóveis, videojogos pelas crianças tem causado diversos tipos de distúrbios: relativos atrasos cognitivos, ansiedade, deficit de atenção, irritabilidade, dificuldade de aprendizagem, isolamento social por não conseguir mais se relacionar com as pessoas.

As crianças e jovens parecem hipnotizados pelos aparelhos móveis e iniciam, assim, um processo de isolamento social, que torna-se devastador. Não conversam mais com os amigos, familiares; os diálogos passaram a ser monossilábicos, e aí ocorre a dificuldade de se relacionar com as pessoas, devido ao facto de permanecer muito tempo diante dos ecrãs. Tornam-se usuários patológicos, dependentes da Internet, ou seja, pacientes com

transtornos mentais.

As crianças e jovens não sabem brincar porque não aprenderam. Receberam em suas mãos, ao invés de brinquedos, aparelhos eletrónicos. Portanto, brincando, desenvolvem- se habilidades motoras, cognitivas, criativas, de imaginação e, principalmente, de lidar com sentimentos de perda e de posse, frustração e superação, respeito e compaixão, amizade e honestidade.

Crianças e jovens passaram a ser criados pelos avós, porém sem autonomia para educa-los, pois os pais desejam educa-los de forma contemporânea, diferente da educação que receberam. Procuram dar todas as facilidades às crianças e também fazer tudo que for possível por elas. Os progenitores não abrem mão da sua independência e procuram fornecer à prole tudo que há de mais moderno, passando para os filhos a ilusão de que tudo é o mais importante.

Assim, os pais tornam-se “bonzinhos”, mas, na verdade tornam-se pais omissos, dominados pelos filhos e sem autoridade alguma sobre a criança ou adolescente. O resultado são filhos que crescem sem limites, sem respeito, sem disciplina e sem valores, pois os pais têm como retórica de que falta tempo e o pouco tempo que dispõem querem aproveitar para o descanso, lazer, centro comercial, etc.

Na demonstração cabal do amor, esquivam-se os pais na postura de querer ser facilitado de tudo para os filhos, a fim de lhes poupar frustrações e evitar que eles errem e sofram deceções, e, ainda, suportem as consequências dos próprios atos.

Amadurecimento requer esforço pessoal e perseverança. Errar é parte integrante do amadurecimento, como assumir a consequência do próprio erro e buscar refazer novamente.

Pais que se omitem na educação de seus filhos, não colocando limites nem regras ou obrigações, e deixam para a escola essa obrigação – cuja função principal não é essa, mas sim de instruir, entre outras -, estarão principiando a esse jovem um futuro rechaçado na sociedade. Assim, a ausência de disciplina no núcleo familiar tem como resultado inumeráveis conflitos, suscitando, ainda mais, o egoísmo.

Assim, esse jovem adultescente, vai um dia encontrar -se no ápice da sua fragilidade e o medo o atormenta. Sentir-se-á em total abandono e percebe então que necessita de auxílio.

Eis que agora a dor é profunda e o individuo começa a questionar-se: porquê essa dor aflitiva, esses medos? Porquê os seus vazios existenciais, a falta de perspetiva? Porquê que nada dá certo? Qual a origem de tudo isso e de cada sentimento?

( do livro  “ RECONSTRUINDO EMOÇÕES “ de Iraci Campos Noronha / Nise da Silveira

 

domingo, 9 de agosto de 2020

Moleiro de Penacova ( profissões que se perderam )

 A profissão de moleiro, que se perdeu com o passar do tempo, foi uma ocupação de grande destaque na região de Penacova nos séculos XIX e XX. Praticamente todas as freguesias deste concelho tinham alguém que se dedicava a esta profissão, tendo em conta que o pão era um dos principais alimentos das populações. Era uma profissão dura, sem horários. No Inverno era o aproveitar a água das chuvas que corria abundantemente nos ribeiros e fazia mover a roda da azenha; no Verão era o vento a energia que fazia mover a velas dos moinhos.

  As azenhas eram construídas junto aos ribeiros e eram ao mesmo tempo, em alguns casos, a casa de habitação dos moleiros e sua família. Ainda hoje poderemos encontrar algumas azenhas nos lugares do Pisão, Vimieiro, Ponte da Mata e Carvalho. Muitas outras já sucumbiram à passagem do tempo, como as azenhas das Corgas, (em Sazes do Lorvão) e na Ribeira dos Palheiros.
  Os moinhos de vento ficavam nas zonas mais altas e ventosas. O caminho era, por vezes, sinuoso e estreito, sendo o burro o principal meio de transporte e de carga. Existiam diversos núcleos de moinhos de vento, que felizmente chegaram até aos dias de hoje, sendo os mais importantes os moinhos da serra da Atalhada, Portela da Oliveira e Gavinhos.
  O processo da moagem dos cereais era semelhante tanto para a azenha como para o moinho de vento.
  Colocados os grãos (podia ser de trigo ou milho) dentro da “moega”, estes caiam quase um a um, entre as duas mós em movimento, sendo esmagados no intervalo destas. A trituração formava montículos de farinha que era prontamente ensacada.
  Por vezes o pagamento deste trabalho era feito em géneros, neste caso concreto, em farinha – a chamada “maquia”. Exemplo: por cada 50 quilos de trigo moído, o moleiro retirava para si 2.5 quilos, através de uma medida de madeira, chamada de “salamim”.
  A manutenção das mós era necessária. Como o processo da moagem leva ao polimento das mós, diminuindo o seu rendimento, o moleiro tinha de virar a face trituradora e com a ajuda de um martelo de cabeça aguçada (o picão) ele picava a mó, deixando-a áspera e pronta para moer mais cereal. Esta operação tinha o nome de “picadura”.
  Depois da moagem feita, o moleiro corria as aldeias para distribuir a farinha aos seus fregueses e ao mesmo tempo recolher os sacos com cereais para moagem.
  A maior parte da farinha era utilizada para consumo próprio na confecção da broa e pão de trigo. A esse tempo, nas aldeias, quase todas casas tinham o seu forno, onde coziam o seu pão.
  O aparecimento das grandes moagens industriais levou ao consequente desaparecimento da profissão de moleiro e, por arrastamento, o encerramento  e desaparecimento dos moinhos de vento e azenhas. Todos ficamos a perder, pois nunca mais poderemos saborear aquela broa caseira, tão saborosa e saudável, cozida com a farinha do moleiro, mestre na arte de moagem.